Alunos do ensino profissional têm mais facilidade em entrar no mercado de trabalho

Ana Isabel Almeida
Editora Inspiring Future
16 junho 2023

Um estudo do EDULOG, uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo, concluiu que os alunos que frequentam o ensino secundário profissional têm maior facilidade em entrar no mercado de trabalho do que os dos cursos científico-humanísticos. Atualmente 45% dos estudantes estão no ensino e formação profissional, fazendo com que Portugal ocupa a 19ª posição do ranking europeu de países com mais alunos a frequentar este tipo de ensino, segundo o estudo. Em primeiro lugar está a República Checa, com 73%.

 

David Justino, membro do Conselho Consultivo do EDULOG, refere que “deve ser feito um esforço por parte de todos os agentes para se evidenciar as mais-valias desta formação e o horizonte efetivo de empregabilidade que ela proporciona”.

 

32% dos estudantes que frequentam cursos científico-humanísticos proveem de famílias onde o ensino superior é o nível de escolaridade dominante. Já no caso dos alunos dos cursos profissionais, são apenas 9%. “Estes números demonstram uma tendência dos estudantes de famílias com formação mais baixa optarem pelos cursos profissionalmente qualificantes do que os estudos de famílias com mais formação académica, que se evidenciam mais nos cursos científico-humanísticos”, lê-se no estudo “Como valorizar o ensino secundário profissional? Dilemas, Desafios e Oportunidades”.

 

Entre 2018 e 2021, mais de metade da oferta de cursos profissionais a nível nacional pertenciam a três áreas de estudo: serviços; engenharia, indústrias transformadoras e construção; saúde e proteção social. Os cursos nas áreas das ciências informáticas, da hotelaria e da restauração representam um terço do total da oferta formativa profissional. Sabe-se que cerca de 81,5% dos cursos são destinados ao setor terciário, 16,6% ao setor secundário e apenas 1,9% ao setor primário.

 

No que diz respeito ao perfil dos alunos que frequentam o ensino profissional em Portugal, este estudo identificou três: estudantes com historial de baixo desempenho académico (perfil dominante); alunos com histórico de bom desempenho escolar e motivados pelo “ensino aplicado, a aprendizagem de uma profissão e perspetiva de empregabilidade”; os que não pretendem ou ponderam entrar no mercado de trabalho, mas orientados para prosseguir estudos no ensino superior.

 

O estudo conclui ainda que há uma maior propensão para prosseguir os estudos, seja de forma exclusiva ou a trabalhar ao mesmo tempo, nos alunos que terminam o curso com uma média mais elevada. É possível também que “os alunos do ensino profissional de zonas com maior densidade populacional têm mais probabilidade de serem bem-sucedidos, tanto nos seus percursos profissionais como académicos, uma vez que as características têm interferência no seu percurso”.

 

Apesar de tudo isto, o EDULOG alertou que o ensino secundário profissional precisa de políticas que fomentem a sua valorização e que uma das questões centrais a ser debatida é o próprio conceito de sucesso do ensino secundário profissional. “É necessário que exista um debate para desmistificar, encontrar consensos, delinear estratégias e envolver os intervenientes num novo paradigma do ensino secundário profissional”. Além disso, “é importante que o número de estudantes do ensino secundário profissional que não tenham dificuldades de desempenho e que se sintam motivados para entrar no mercado de trabalho possa crescer e, para que isso aconteça, é preciso redefinir a estratégia deste tipo de ensino e dar a conhecer a sua ligação ao mercado empresarial, por forma a que haja um maior contacto entre estudantes e empregadores”, lê-se no estudo.

 

Outra das recomendações feitas pelo EDULOG é o reconhecimento do valor do ensino secundário profissional dentro das escolas e, para tal, é necessário que os professores partilhem os “mecanismos de avaliação do seu sucesso” e do que se faz neste tipo de ensino.