O Caminho do Jornalista

Jornalista da TVI
7 novembro 2019

Porque o passo que vais dar depois de acabares o secundário pode ser ainda uma incógnita, ao longo das próximas semanas, a Inspiring Future vai partilhar contigo artigos escritos por profissionais de diferentes áreas. Esta semana, convidámos a Madalena Rodrigues, jornalista da TVI com 23 anos, a falar-te um pouco do seu percurso académico e profissional. Esperemos que estes artigos te ajudem a tomar uma decisão mais ponderada em relação ao teu futuro!

Persiste, insiste e não desiste

Esta não é uma história de sucesso profissional, longe disso. Quem sabe, talvez seja um dia mas por agora é apenas um exemplo de persistência. É a história de um caminho que ainda agora comecei a trilhar. Para contá-la vou basear-me em factos e na cronologia dos acontecimentos: irremediável defeito de jornalista. 

Licenciei-me em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social, no ano de 2013. Na altura de me candidatar ao Ensino Superior lembro-me de me sentir assustada, apavorada na realidade. A nota de candidatura era relativamente alta, de 16 valores. Para o curso em que eu pretendia entrar candidatam-se cerca de dois mil estudantes todos os anos… Para 60 vagas. Terminei o Ensino Secundário com média de 15,65 valores e não entrei, por umas décimas. Depois de um 12º ano tão trabalhoso custou estar tão perto da meta e não a cortar. Acabei por entrar noutro curso da mesma faculdade.

Os meus pais aproveitaram a deixa e quiseram que eu esquecesse o jornalismo, esse “mundo cão”. Mas durante esse ano letivo havia qualquer coisa que me dizia para eu não desistir. Agarrei em mim e decidi completar o primeiro ano de licenciatura, mas rapidamente percebi que Relações Públicas e Comunicação Empresarial não era o meu sonho de vida. A questão é que eu sabia exatamente qual era o meu sonho, ao contrário de quase todos os jovens de 18 anos. E por isso, tive de ir atrás dele. Acabei por entrar em Jornalismo no ano letivo seguinte, através de transferência interna. Não foi o meio mais convencional nem tão pouco o mais direto, mas cheguei lá. 

Em três anos estava licenciada. Não fui a aluna-prodígio da turma, nem sequer fui das mais brilhantes. Mas hoje entendo que a média com que concluímos um curso não é um bilhete de ingresso automático, pelo menos no mundo do jornalismo. Antes de acabar a licenciatura já estava a pensar no passo seguinte. Nunca tive feitio para ficar à espera do destino, à espera que a vida me aconteça… Movo-me por uma espécie de “bicho-carpinteiro”. Decidi enviar currículos: queria arranjar um estágio curricular o quanto antes. Se fosse durante o verão, melhor ainda. Não queria perder tempo. 

A 17 de setembro de 2013, entrei na TVI como jornalista estagiária da editoria de Sociedade. Nesse dia senti-me transparente, completamente invisível. A correria própria de uma redação e a quantidade de pessoas que por ali passavam, apagaram a minha chegada. Era só mais uma, no meio de tantos outros. Na primeira semana de estágio acompanhei jornalistas, tirei notas, observei e absorvi tudo o que pude.

Propus reportagens e organizei uma agenda de eventos relevantes para os editores. Acima de tudo, tomei iniciativa. Uma semana depois estava a sair em reportagem, completamente sozinha, acompanhada apenas pelo repórter de imagem. A minha primeira peça foi transmitida a 28 de setembro, 11 dias após o início do estágio. Não tinha horários para nada, nem sequer para comer.

A minha postura tinha de ser de entrega total e inquestionável, se me queria destacar. Em outubro comecei uma pós-graduação em Comunicação e Marketing Político. Resultado: estágio na TVI durante o dia, aulas na faculdade durante a noite. O estágio terminava em dezembro. Era curricular e como tal tinha a duração de três meses. Mas, na altura, chegou-me um pedido especial: os meus editores queriam que eu ficasse mais tempo. Estava sedenta por aprender mais e vi naquele pedido um certo reconhecimento do meu trabalho. Fiquei mais três meses, sem qualquer remuneração. “Havia de compensar”, pensava.

O estágio terminou a 17 de março de 2014 mas antes de isso acontecer já a RTP tinha o meu currículo. Lá está o meu “bicho-carpinteiro”. Candidatei-me a um estágio profissional no canal público. Saí da TVI numa terça-feira e na quinta-feira dessa mesma semana já estava a prestar provas, escritas e orais, para a RTP. Mas na sexta-feira, ainda durante um dos testes, recebi uma chamada que mudou o rumo da minha vida: a TVI queria contratar-me.

E assim foi. Larguei a RTP e voltei para a casa onde aprendi o pouco que já sei hoje. Sou jornalista da TVI desde o dia 1 de abril de 2014. O horário não é nada fácil, talvez seja o mais difícil: entro às cinco da manhã todos os dias. Às vezes custa, claro. Só a paixão nos faz levantar da cama tão cedo. Mas, também, ninguém me prometeu que ia ser pêra-doce. Aliás, eu acredito que tudo o que vale a pena dá trabalho.

O valor das nossas conquistas reside precisamente na dificuldade que temos em alcançá-las. A receita não é mágica nem secreta, tem apenas dois ingredientes: humildade e persistência. Humildade e persistência para não parar de aprender e de evoluir. Humildade e persistência para tentar, errar, tentar e errar outra vez, e depois aprender com os erros. Humildade e persistência para traçar uma nova meta. O truque é não ficar parado, alimentar o sonho e o “bicho-carpinteiro” que vive em cada um de nós.

“Dream big. Start small. But most of all, just start now.”