Nós e esta coisa do mercado de trabalho

Psicólogo Social da Wilson Learning
9 maio 2019

O mercado de trabalho pode parecer uma coisa assustadora e avassaladora quando o chamamos por este nome, mas é tudo uma questão de perspetiva. Se pensarmos num mercado como um conjunto de pessoas que se reúne para procurar ou oferecer alguma coisa, então, no mercado de trabalho temos, de um lado, pessoas que oferecem aquilo que sabem fazer de melhor (como tu e eu) e, de outro lado, pessoas que procuram alguém que saiba fazer bem uma coisa (o chamado empregador). É simples! E onde ficam as pequenas e médias empresas, as grandes multinacionais? São tudo pessoas: são pessoas que conduzem a entrevista de emprego, são pessoas que escrevem e enviam um CV, são pessoas que decidem se gostam ou não gostam o suficiente de ti para te contratar. 

Como sobreviver no mercado de trabalho? - poderíamos perguntar, mas esta pergunta embora legítima não nos levaria muito longe. Sobreviver, na cabeça da maioria de nós, significa ganhar dinheiro, ter segurança financeira, pagar as contas e ter algum de sobra para fazermos o que nos dá prazer. Procurar dinheiro e segurança leva-nos a ver o mercado de trabalho como “alguém” a quem temos que agradar, eventualmente um tirano a quem temos que obedecer, pensando e fazendo as mesmas coisas que os preferidos do mercado de trabalho já fazem. Pensar pela nossa cabeça, dar asas à nossa criatividade, originalidade e experimentar coisas novas pode colocar em risco a nossa segurança e a nossa sobrevivência, se o tal do mercado de trabalho não gostar das nossas invenções. Então, esta pergunta é o equivalente a querermos agradar aos outros a qualquer custo, deixando, inclusive, de sermos nós próprios para não corrermos o risco de ficar sem amigos. Da mesma forma que querer que os outros gostem de nós não faz de nós melhores amigos nem garante a qualidade das nossas amizades, sobreviver no mercado de trabalho também não garante que sejamos felizes nos nossos empregos nem que sejamos bons a desempenhá-los. 

De qualquer modo, como o mercado de trabalho são pessoas, teremos sempre que agradar a alguém se quisermos trabalhar! O que podemos então perguntar-nos?
Qual o contributo que eu gostaria de dar às pessoas que estão no mercado de trabalho? O que posso fazer que me traga felicidade e, ao mesmo tempo, melhore a vida e alivie “as dores” de alguém ao ponto de essa pessoa estar disposta a pagar-me por isso? Este tipo de pergunta já nos leva um pouco mais longe. Primeiro conduz-nos a olharmos para dentro de nós e a descobrirmos o que nos faz felizes. Qual a vantagem de fazermos coisas de que gostamos no mercado de trabalho? Simples: quando gostamos de uma coisa esforçamo-nos mais para fazê-la bem e nunca nos cansamos de aprender a fazê-la cada vez melhor. Além disso, fazer o que gostamos marca a diferença entre vivermos felizes 7 dias por semana ou deixarmos a felicidade para o sábado e domingo. Segundo, fazendo uma coisa cada vez melhor permite-nos aliviar as “dores” dos outros, satisfazer as suas necessidades, e melhorar as suas vidas como pontas-de-lança certeiros. Terceiro, quando os outros sentem que podem contar connosco para ultrapassarem aquele problema que os incomoda ou vencerem aquele desafio intransponível, estão disposto a pagar-nos bem por isso. 

Respondendo a esta pergunta matamos três coelhos com uma cajadada (a metáfora é mórbida e triste pelos coelhos e pela minha esposa que adora coelhos como animais de estimação, mas percebem a ideia): ganhamos dinheiro, ajudamos as pessoas do mercado de trabalho a superarem os seus problemas e  fazemos algo que nos deixa felizes e realizados. 

Parece um futuro interessante? Então em vez de procurarmos agradar e causar boas impressões, vamos um pouco mais longe: procuremos construir relações de valor, ou seja, relações em que nós ofereçamos algo de que a outra pessoa necessite para melhorar a sua vida e que valorize o suficiente para nos pagar por isso. Para concluir fica uma dica para construíres relações de valor. Procura conhecer e encaixar as três peças do puzzle: 

1.    Conhece as tuas aspirações e valores: em que acreditas? O que gostas de fazer? Que mudanças gostarias de provocar no mundo? O que desejas para a tua vida? O que te faz feliz?

2.    Conhece os teus talentos: o que fazes naturalmente bem? O que aprendes com facilidade?

3.    Conhece as necessidades das pessoas do mercado de trabalho: quais são as dores ou problemas dessas pessoas? Quais são os seus desafios? O que gostariam que acontecesse que não acontece?

 

Quando encaixares estas três peças, tu e o mercado de trabalho vão ficar grandes amigos.